quarta-feira, 27 de julho de 2011

Magé vive o desafio de avançar em seu desenvolvimento sócio-econômico ou manter-se refém do atraso do coronelismo político, corrupção e autoritarismo

Feira do Bairro de Piabetá (Foto: Mestre Paulão)
* Por Sérgio Ricardo
No momento em que o Brasil retoma seu desenvolvimento econômico, estagnado por décadas em especial nos anos 80 e 90 no auge da hegemonia do Neoliberalismo, e avança na área social com a consolidação de um amplo mercado interno consumidor, implantação de políticas compensatórias voltadas para o combate à pobreza e à erradicação da miséria extrema e com a ascensão ou mobilidade social de milhões de famílias oriundas da classe trabalhadora que, nos últimos anos, passaram a ter a esperança de viverem em melhores condições sócio-econômicas, surge a pergunta sobre que papel histórico deve desempenhar as cidades neste novo cenário. Podemos dar como exemplo a cidade de Magé, situada no fundo da Baía de Guanabara e parte integrante da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que neste momento passa por um processo de eleições municipais, por decisão da Justiça Eleitoral, após lamentavelmente figurar por diversas vezes nas páginas policiais dos noticiários de todo o país por causa dos escândalos de corrupção identificados na prefeitura local e por graves irregularidades ocorridas nas últimas eleições municipais, onde a ocorrência de fraudes eleitorais levou à suspensão dos atuais mandatos de Chefe do Poder Executivo e à convocação de novas eleições para o dia 31 de Julho de 2011.

Será afinal o fim do coronelismo político, prática política atrasada exercida por oligarquias locais pouco afeitas à Participação Popular que se revezam no poder a cada eleição e que controlam com mãos de ferro o sagrado e inviolável voto popular, tratando as comunidades e as famílias trabalhadoras como “curral eleitoral”?! Espera-se que este momento seja de efetiva consolidação da Democracia como Direito da Cidadania e valor social inalienável. Que seja definitivamente coisa do passado o medo e as intimidações oriundas da violência política, assim como não se reproduza e nem prosperem as fraudes eleitorais que tem como marca a abominável e ilegal compra de votos e o jogo de interesses do poder econômico sobre o resultado do pleito, para que mais uma vez a esperança do povo não seja frustrada. A disputa tem como atores diversas forças sociais e políticas da cidade que legitimamente se apresentam para escolha da população através de diferentes partidos e coligações. Cabe aos cidadãos e cidadãs mageense perguntarem a cada um dos candidatos qual o seu Programa de Governo onde devem constar as propostas e ações a serem adotadas caso eleito para sanar a carência de investimentos nas áreas de saúde, educação, saneamento básico e habitação popular. O que propõe seu candidato para melhoria dos transportes, ampliação da assistência social e como alternativas de geração de empregos e renda? Que políticas públicas irá adotar o candidato que você pretende escolher para promover a inclusão social e produtiva da juventude para tirá-la da ociosidade, proporcionar capacitação profissional e aumento dos níveis de escolaridade que libertam o jovem trabalhador do sub-emprego e das incertezas da informalidade? De onde virão os recursos financeiros para tirar do papel as muitas promessas feitas durante a campanha? Com que forças sociais e políticas pretendem governar o município? Estas e outras perguntas essenciais para o futuro do município devem ser previamente feitas por cada morador(a) para depois não passar mais 4 anos de arrependimento.

Este momento, em que pelo voto a sociedade de Magé através da escolha de seus dirigentes políticos é chamada a decidir de forma direta sobre seu futuro, pode significar também o renascimento ou a redenção deste município, já que esta cidade notoriamente tão mal administrada e abandonada pelo poder público local dispõe de mais de 2/3 de seu território formado por florestas urbanas e tem grande potencial hídrico. O município tem reconhecida vocação pesqueira com expressivo número de pescadores artesanais; além de dispor de extenso território com vocação agrícola que pode tornar o município num importante produtor de alimentos saudáveis (sem agrotóxicos e venenos químicos) para abastecer os mercadores consumidores da Baixada Fluminense e da Capital (Rio de Janeiro). Na área de transportes, um dos mais graves problemas da região, o novo Prefeito(a) precisa ter a coragem e independência para lutar contra o pedágio que aumenta os custos da mobilidade urbana, implantar ciclovias como opção de transporte menos poluente, exigir a melhoria da qualidade do transporte público e se articular com os governos federal e estadual, e a iniciativa privada para enfim tirar do papel o Plano Hidroviário da Baía de Guanabara, elaborado em 1982, e que previa a ligação por barcas entre a Praça XV e Magé (Guia de Pacobaíba). Nas área cultural e do Ecoturismo a cidade tem muito a se desenvolver gerando novos empregos, valorizando e protegendo sua bela natureza, e promovendo tanto seu desenvolvimento econômico, como inclusão social e geração de renda. O parque industrial da região precisa ser dotado de sistemas de produção modernos, de ciclo fechado, para que se desenvolvam tecnologias limpas e menos poluentes e fontes de energias renováveis, com isso reduzindo os impactos produzidos pela ocupação do território por empresas de elevado potencial poluidor e risco ambiental. Essas premissas precisam ser levadas a sério para que o município de fato seja compensada e se beneficie da cadeia produtiva da futura Refinaria da Petrobras (Comperj) e não sirva como uma mera “zona de sacrifício ambiental” onde se instalam empresas de tecnologias sujas e obsoletas. O saneamento ambiental que engloba ações de drenagem urbana, coleta e tratamento dos esgotos e de gestão integrada do lixo domiciliar precisa ainda avançar muito para evitar que os rios da Baía de Guanabara deixem de ser vistos como fétidos valões de esgoto a céu aberto, reduzir as doenças de veiculação hídrica (geradas pela falta de acesso a água potável), e para que o poluente lixão de Bomgaba seja desativado e substituído pelo tratamento do lixo e pela coleta seletiva garantindo aos catadores(as) de materiais recicláveis dignidade humana e melhores condições de trabalho, além de aumento de renda que pode advir da organização da cadeia produtiva da reciclagem. Enfim, depende de cada um de nós decidir se Magé ficará presa ao seu triste passado de violência, abandono, poluição e corrupção ou se renascerá a partir da vontade e consciência de seu povo como uma cidade mais humana, ecológica e solidária.
* Sérgio Ricardo
É Ambientalista e Gestor e Planejador Ambiental. Foi Sub-Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Nova Iguaçu (Secretaria Municipal de Meio Ambiente Agricultura), Coordenador da Rede de Lonas Culturais da Prefeitura do Rio de Janeiro (Secretaria Municipal de Cultura), coordenou a Comissão Permanente de Meio Ambiente da ALERJ e foi Membro Titular do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA) e Fundador do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Guandu.
Tel. (21) 9734-8088 |E-mail: sergioricardoverde@gmail.com

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